Onde estão os corpos velhos da dança?
É a partir desse questionamento que nasce o espetáculo “Corpos velhos, pra que servem?”, idealizado e dirigido pelo bailarino e coreógrafo Luis Arrieta*.
Ao lado de expoentes artistas da dança brasileira – Célia Gouvêa, Décio Otero, Iracity Cardoso, Lumena Macedo, Marika Gidali, Mônica Mion, Neyde Rossi e Yoko Okada –, ele investiga em cena as danças possíveis para esses corpos.
Antes da estreia, que vai rolar no dia 15 (sexta), nós conversamos com ele para saber mais sobre o universo que circunda o espetáculo, que acontece às 21h30, no Galpão do Sesc Campinas.
Boa leitura!
“Sou mais um participante deste espetáculo, e também sou um diretor e orientador disto que estamos fazendo.
Este encontro é de pessoas com pelo menos meio século de trabalho, de experiência, de vida profissional, ativa, profunda e permanente.
Digo pelo menos porque tem gente que deve ter muito mais do que isso. E o que estou querendo ressaltar com isso é que para ter esses tantos anos de experiência, não tinha como não ser velho.
É uma condição para que essa experiência exista. Então esse encontro, antes de ser de velhos, é de pessoas com muita experiência nesse meio. Digamos assim, já bateram muito o pé na terra para estar compartilhando isso.
SOBRE O PROCESSO DO ESPETÁCULO
Quanto ao processo, o processo começou mais ou menos um século atrás, quando todos foram nascendo e foram fazendo sua vida. O processo é a própria vida de cada pessoa, aulas, temporadas, etc.
Estas pessoas, por exemplo, costumavam fazer aulas e ensaios, mais ou menos em uma base de seis a oito horas por dia. Às vezes, inclusive, aos fins de semana. Então, esse é o processo. Existe um processo fora disso, o resto que eles vão expressar é a própria vida de cada pessoa, com tudo aquilo que eles foram aprendendo.
E eu acho que este encontro é muito forte porque todas as pessoas estão cheias de vida no corpo para contar. Mesmo que esses corpos, aparentemente, não estejam tão hábeis para dizer. Eles já estão com as pronúncias bastante, digamos, danificadas. Mesmo assim, eles conseguem se expressar.
Então, falar de processo, nesse caso, é meio engraçado.
CORPOS VELHOS NA BIENAL
O Sesc, na sua Bienal de Dança, traz e valoriza movimentos de todos os tipos de dança. Agora, o festival está trazendo este espetáculo também com o intuito das pessoas poderem ter mais uma forma de ver, de tirar também alguns pensamentos um pouco mais petrificados, de que o velho é feio.
Parece que ao velho não lhe corresponde namorar, amar e muito menos usar o corpo. E os velhos usam os corpos mesmo nas mínimas condições deles.
COMO VER UM ESPETÁCULO DE DANÇA
Às vezes, o público fica preocupado porque sabe pouco ou nada de dança, vira uma coisa intelectual. Mas o intelecto é a última coisa que você precisa trazer para assistir dança. Se é possível, nem traga, porque dança é como namorar. O último que nos importa é o papo racional.
Nos entregamos de corpo inteiro para as outras pessoas. O espetáculo de dança, você assiste com os olhos. Os olhos me permitem registrar intelectualmente formas dinâmicas e efeitos de luzes. Mas é o próprio corpo que os recebe. De empatia. De corpo a corpo. Dança é um tipo de espetáculo que se assiste de corpo a corpo.
Então bora, de corpo a corpo, celebrar a vida desses grandes bailarinos em cena?
Saiba mais sobre o espetáculo clicando aqui.
*Coreógrafo, bailarino, professor e pesquisador, Luis Arrieta iniciou seus estudos de dança em 1972, na Argentina, sua pátria, onde estreou como bailarino. Sua primeira coreografia, “Camila”, é de 1977 e, desde então, criou mais de uma centena de obras.