Um grande corpo de baile vai dançar pelas ruas de Campinas. Instituindo uma Zona Autônoma Temporária em que serão evocados coletivamente os sonhos, desejos, autonomia, articulação, e, principalmente, a memória. Como ação performativa de presente, o que importa é o aqui e agora.
Cadela. A palavra vinha ocupando o imaginário criativo da artista Idylla Silmarovi desde 2017. E como quem mantém ligada a antena do desejo, foi quase natural a união das pessoas para realizar o projeto. E foi a partir desse ajuntamento, que Juão Nyn propõe a mudança de grafia no nome, utilizando o prefixo Ka’a, que nas línguas de tronco Tupi pode significar “mata – território”. Esta ação é idealizada por Idylla e Juão Nyn, o trabalho é também dançado por eles, David Maurity e Vina Amorim, e pelos participantes da residência artística conduzida durante a Bienal Sesc de Dança, dias antes das apresentações, além dos integrantes da Plataforma Ka’adela (Rafael Bacelar, Edgar Kanaykõ Xakriabá e Fredda Amorim). É um “coletivo autônomo temporário”, brinca Idylla
Pensando o corpo como território, entendimento trazido por indígenas, travestis e pessoas pretas, a residência propõe buscar estratégias cênicas, performativas para pensar sobre monumentos coloniais e evocar as próprias memórias. “A gente só consegue pensar uma contra-colonização, se a gente primeiro fizer esse processo com o nosso próprio imaginário, modo de vida, modo de pensar e agir no mundo.”, enfatiza a artista.
A performance convida um contra-ataque aos símbolos dos museus a céu aberto que são as cidades: “O que um monumento de dez metros de altura, que é de alguém que assassinou os nossos ancestrais, quer dizer? Para mim, eles querem que a gente se esqueça de nós e não se esqueça deles.” Idylla também defende que a ação artística não tem nada de heroica, muito pelo contrário “é uma ação efêmera. É a criação de um território temporário, um compartilhamento de um tempo coletivo. Pensando junto e agindo junto diante da história e da memória da cidade e das nossas memórias”, completa.
O monumento à Mãe Preta, localizado no Largo São Benetido, em Campinas, receberá a intervenção artística durante a 13ª Bienal Sesc de Dança. O local que já foi cemitério das pessoas negras escravizadas e indígenas, e hoje é uma praça. “Em Campinas, a nossa ação está focada em botar atenção a esse fato, a honrar os nossos mortos. Quem tem o direito ao sepultamento, aos ritos de passagem? A quem interessa ao estado manter vivo ou matar?”, explica Idylla sobre a performance “KA’ADELA – Ação coletiva de contra-ataque”.
Serviço
Residência artística “KA’ADELA”
De 15 a 19/9. Sexta a terça, das 14h às 18h
Local: MIS – Museu da Imagem e do Som de Campinas. Rua Regente Feijó, 859 – Centro.
Duração: 20 horas.
Para pessoas a partir de 18 anos.
Inscrições limitadas por seleção, feita mediante envio de carta de interesse, que deve conter uma mini biografia e suas motivações para participar da atividade. Enviar para o endereço formativas.bienal@sescsp.org.br até 3/9 colocando “KA’ADELA” no título.
Grátis.
Apresentação da performance vai acontecer nos dias 20 e 21 de setembro, às 16h30min, no Monumento à Mãe Preta/ Igreja São Benedito. Sinta-se convidado a compartilhar desse território coletivo com a gente! Saiba mais aqui.
“É tempo de se deixar guiar pelo faro e pela força dessa entidade Para sonhar como quem caça o alimento para viver”.
A frase no site da plataforma convoca a todos a onçar.