Olhos nas costas e um riso irônico no canto da boca
Luciane Ramos-Silva | SP | Brasil
Espetáculos
Brasil
14 anos
40'
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14 anos
40'
O solo é uma travessia, no sentido atlântico e contra-hegemônico. O corpo de Luciane Ramos-Silva atua, a um só tempo, como território da diferença e da anunciação crítica. Entre imaginários, ficções e camadas de histórias, a obra interroga as lógicas que produzem os “mesmos” e os “outros”, examinando a natureza de nossas relações.
O espetáculo mobiliza afetos, memórias, violências e contradições do legado colonial que define quem pode e quem não pode participar do “clube dos humanos”. Para a artista, abordar a construção de “outros” não é apenas discutir alteridade, mas refletir sobre como padrões de estereótipos e perfis identitários são tomados como realidades ontológicas, ignorando a compreensão de que as identidades são rios caudalosos e não ideias fixas.
Dançando nas fissuras do pensamento ocidental, o trabalho põe em risco a dicotomia entre corpo e pensamento, articulando e expondo, num mover-pensar, o que baseia tal separação. Embalada por um ritmo que pulsa como na levada de um jazz – tão livre quanto ensaiado –, a dançarina convida os presentes e os passados a partilharem um riso irônico no canto da boca – aquele de quem sabe que a dança ainda não acabou. O gesto dançado conduz a memória como recriação do vivido e oferece o jogo, sutil e sagaz, como modo de transcendência.
FICHA TÉCNICA
Concepção, coreografia e interpretação: Luciane Ramos-Silva;
Trilha sonora: Noisestudio;
Figurino: Julia Martins;
Luz: Dedé Ferreira;
Som: Dara Duarte;
Assistente de direção: Vinicius Bernardo;
Produção: Corpo Rastreado.